Ei Walcyr, vai tomar no c…

Infelizmente, mais nada me veio à cabeça ao assistir as cenas da personagem Paloma na clínica psiquiátrica em Amor à Vida. Talvez, a única referência do autor ainda seja o livro/filme O Bicho de Sete Cabeças.

Ao pensar tanto em não estimular a homofobia, poderiam também pensar na psicofobia (preconceito contra portadores de transtornos e deficiências mentais). Colocam a personagem com autismo passando por um tratamento todo correto etc, mas na hora de colocar uma clínica psiquiatrica escolhem a ‘casa de loucos’ e ‘centro de tortura’. Ainda se estivesse contextualizado, mas não, é uma menina rica, médica, cercada por médicos ‘competentes’, filha de dono de hospital, que só cairia em um tratamento errado por milagre, não há Félix ou Jesus Cristo que fizesse algum médico acreditar naquela clínica, mas fica tudo justificado pq é uma obra de ficção. Não suficiente, colocam o ECT como um tratamento de choque elétrico, feito como uma punição e tortura nos pacientes.

O ECT é um método que evoluiu, é o mais eficaz contra depressão refratária, é realizado em frequências baixas, com o paciente em sedação leve, não é, nem de longe, a pintura de tortura que colocaram no horário nobre da Globo. O discurso passado ali é, se a menina rica, cercada de médicos na família, é internada em uma clínica assim, é pq isso é o melhor q existe e ainda, se essa é uma realidade de ricos, imaginem os pobres, já na entrada devem ser obrigados a enfiar o dedo na tomada para irem se acostumando.

A novela mostra um depositório de ‘loucos’ que são dopados diariamente e passam por torturas de choque na cabeça, como se esse fosse o tratamento digno daqueles que sofrem algum tipo de condição psiquiátrica. A luta para que as pessoas entendam o ECT e percebam como é feito o tratamento hoje, quais são os benefícios, já é tão difícil e fica cada vez pior contando com imbecilidades como a mostrada em Amor à Vida. Ser uma obra de ficção não justifica reforçar medos e preconceitos, não justifica mostrar apenas um lado, se não puder ajudar, tb não atrapalha.

A Associação Brasileira de Psiquiatria divulgou uma nota de esclarecimento voltada à Globo e se colocou à disposição dos bonitões para prestar consultoria, evitando que, novamente, venham a ferir o ofício do médico psiquiatra e desrespeitar os 46 milhões de pacientes psiquiátricos do Brasil.

Walcyr tenha mais amor à vida e fale com a ABP antes de mexer com 46 milhões de mentes que não vivem alegres no cenário do Projac.


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Desabafe!